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Pó e cinza,apenas
São lugares sombrios, fúnebres. Há, neles, uma atmosfera de sofrida melancolia e doída solidão,mas são também lugares de igualdade onde todos os que vão ali para enterrrar seus mortos ,independentemente, de sua condição sócio-econômica vão para lamentar e chorar.Poucas pessoas escolhem locais assim para visitar. Nesses lugares a boca insaciável da terra se abre continuamente para tragar com a mais absoluta naturalidade corpos humanos, como um predador faminto devora sua presa. Ela é indiferente aos gritos de oh! meu Deus, e às lágrimas de dor e perda de parentes e amigos que lamentam o fim do ciclo de seus entes queridos.Se o coração da terra falasse, talvez até dissesse: - Aqui é um lugar de democracia, de igualdade. Quem fica lamenta e chora; quem vai, vira pó e cinza.Dediquei um dia de minhas férias para visitar cemitérios de pobres e ricos. Queria sentir na pele, nos olhos e no coração o impacto da Verdade revelada. “ ...Porque és pó e ao pó te tornarás...”. Realmente, somos pó em estado sólido, que a qualquer momento pode se dissolver e voltar ao ventre da terra. O profeta Isaías falou sobre isso, dizendo “... toda a carne é erva e toda sua beleza como as flores do campo. Seca-se a erva e caem as flores, soprando nelas o hálito do Senhor, na verdade o povo é erva...”.Por que não fazer visitas periódicas a cemitérios e Uti’s?Eles nos levariam a refletir sobre a absoluta transitoriedade da existência humana, a tolice do orgulho e da avareza. A futilidade da busca da fama. Nesses ambientes, os mais exaltados sentimentos se curvam. O orgulho é humilhado; o poder, o prestígio se tornam impotentes. A exaltação cai de joelhos. Os cemitérios são locais em que a força da morte ri da nossa fragilidade. Mas isto ocorre apenas com aqueles que dão uma dimensão puramente material à sua vida e se esquecem de que são pó e cinza.Os que dão uma amplitude eterna à sua existência, sabem que aquele momento é apenas o fim do seu ciclo de vida material e que além desse fim,existe algo defintivo e imorredouro. Para estes, o choro é menos doído, a perda menos traumática.Jesus foi enfático com aqueles que se preocupam apenas com o mundo material: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam... porque onde estiver vosso tesouro, aí estará também vosso coração". Na visita que fiz a vários cemitérios,observei que a diferença dos cemitérios  de pobres para os de ricos é  apenas externa.Nos cemitérios públicos as pessoas eram, em sua maioria, muito simples.Pessoas de meia idade já tinham a face sulcada de rugas.As dores das dificuldades do dia a dia estavam estampadas em seus rostos. Era um povo sofrido pela vida de dores que levava e ,agora no cemitério, pelas dores da perda. As duas dores se fundiam deixando-as curvadas por dentro e por fora. Então lembrei de Jesus “ diz a narrativa bíblica que Ele era um homem experimentado na dor e no sofrimento” “ homem de dores” . Lembrei de sua túnica surrada, suas humildes sandálias gastas pelas longas caminhadas. Sua pobreza material. No aspecto externo, eu vi a semelhança entre as pessoas dos cemitérios pobres e a pessoa física de Jesus.Mas em todos os cemitérios a cena era a mesma - lágrimas, sentimentos de dor e perda. O destino dos que iam era um só – O VENTRE DA TERRA, QUE OS TRANSFORMARIAM EM PÓ E CINZA.

Marcos Antonio Vasco Rodrigues.
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Marcos Antonio Vasconcelos
Enviado por Marcos Antonio Vasconcelos em 04/07/2011
Alterado em 21/04/2015


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