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Cheiro de sangue fresco,temporal e agonia
CHEIRO DE SANGUE FRESCO, TEMPORAL E AGONIA
O Sol acabara de pintar o horizonte de vermelho. O céu vestia-se de um azul calmo e sereno. Havia um clima de solidão e silêncio sepulcral. As ruas eram limpas e desabitadas, as casas pequenas e bem cuidadas, assemelhavam-se as de um conjunto residencial recém-construido, contudo a cidade era cercada por grandes muralhas. Não se ouvia nenhum ruído, nenhum movimento nas ruas, havia ausência até mesmo de vento soprando. As plantas dormiam comodamente dentro dos jarrinhos pendurados nas paredes de algumas casas. Seria uma cidade fantasma? Não era, porque daquele lugar emanava uma paz celestial. Marcos contemplava do topo da montanha todo aquele ambiente e conseguia captar pelo coração da alma pessoas suspirando e corações pulsando.Jamais houvera posto os olhos e o sentimento num ambiente semelhante. Que mundo era aquele? Seria a nova Jerusalém? Vieram-lhe à mente várias interrogações. Por que construir tão singela cidade protegidas por gigantes muralhas num vale circundado por gigantes montanhas? Por que os habitantes dessa cidade se recolhiam tão cedo, logo na hora do pôr-do-sol? Por que não se recolhiam após a contemplação do ocaso? E ele, o que fazia ali? Quem o levara àquele lugar estranho? Como chegara? Enquanto seu coração o inquietava com uma infinidade de perguntas sem respostas, um cheiro de sangue fresco invadiu suas narinas. Sentiu medo...e náuseas. Olhou para todos os lados. Seus olhos não conseguiram localizar nenhum ser vivo, nenhum ruído suspeito, nenhum vestígio. Só ouvia e sentia o zumbido do vento passando a mão fortemente em seus cabelos. Será que o odor de sangue fresco estava vindo da misteriosa cidade? Não, não poderia ser, pensou... então decidiu: iria perscrutar cada palmo da cordilheira e só iria desistir quando conseguisse identificar a causa daquele odor, também misterioso e incompreensível. Enquanto decidia por onde iria começar sua caçada, um relâmpago cruza a montanha de norte a sul, acompanhado de trovões medonhos. Era o prenúncio de um forte temporal. Que estranho. - Pensou, não havia clima para temporal. Como se formou tão repentinamente? Sentiu-se menor que uma minúscula formiga. Proporcionalmente ao tamanho do Universo somos isto mesmo, avaliou . Sentiu na pele da alma, naquela tensa situação, a pequenez e a extrema fragilidade do ser humano. Mas Precisava proteger-se do temporal. Não havia abrigos na montanha. Não havia escolha. Desceria a montanha e pediria abrigo na estranha cidade. E assim o fez. A descida era íngreme e perigosa, mesmo assim apressou os passos, pois ao olhar para trás uma forte enxurrada corria atrás de si. Sabia, sem saber por que sabia: caso fosse tocado pelas águas da enxurrada, que corria na montanha, morreria. Quando chegou ao enorme portão da estranha cidade estava ofegante e exausto.- Por favor, abra – disse apavoradoUm homem fardado com roupa de tecido cáqui, olhou tranquilamente para Marcos e disse-lhe:- Você não pode entrar!Marcos olhou novamente para trás. A enxurrada estava a poucos centímetros dele e gritou:- Amigo, se essa água me tocar eu morrerei. Por isso não posso voltar.- Pois aqui você não tem autorização para entrar. Enfrente a enxurrada e volte de onde você veio.- Mas eu não posso, insistiu Marcos.- Sinto muito, disse o porteiro.Marcos deu um pulo da rede. Estava ofegante, com o peito quente e o coração batendo acelerado. Olhou para o relógio. Eram três da madrugada. Respirou fundo. Era só um sonho... ainda bem... Marcos Antonio Vasconcelos Rodrigues Esta obra está registrada e licenciada.
Marcos Antonio Vasconcelos
Enviado por Marcos Antonio Vasconcelos em 10/12/2010
Alterado em 18/04/2015 |