Marcos Antonio Vasconcelos Rodrigues Pensar e Repe

Pensar e repensar

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Textos

Teologia da Prosperidade: grandes inverdades dos mercadores da fé
Enquanto aguardava na entrada de minha casa que alguém viesse abrir-me o portão,ouvi via rádio do vizinho uma voz impostada e artificial dizendo por meio de uma emissora FM pertencente a um dos "líderes" da teologia da prosperidade ou confissão positiva:-"vocês já ouviram a letra da música 'Eu sou pobre, pobre, pobre / de marré, marré, marré / eu sou pobre, pobre, pobre / de marré deci'.? "Pois saibam que ela foi inspirada por satanás,para exaltar a pobreza. Deus criou a riqueza e todos seus servos eram prósperos e ricos"disparou a voz revoltada,impostada e artificial. Há duas grandes inverdades na citação acima.A primeira é que o autor deixa claro na afirmação que seu conceito de riqueza é puramente temporal,contrastando claramente com os conteúdos ensinados pelo mestre maior,que enfatiza a construção e a vivência de valores espirituais,que embora subjetivos devem ser considerados como riqueza,uma vez que são responsáveis por uma vida de paz e gozo,principalmente na vida após a morte física. O Mestre deixou bem claro que a riqueza espiritual se sobrepõe à material,por esta razão todo o seu Ministério foi centralizado na concretização desse propósito. Os evangelhos estão cheios de citações exaltando sua necessidade e importância.Vejamos algumas, saídas da boca do próprio Mestre:"se não tiveres um coração de criança não verás a Deus"," ".. de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma...?", “...Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem as traças nem a ferrugem os consomem, e os ladrões não furtam nem roubam...", "...louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será...?" .No Capítulo cinco de Gálatas há algumas características da riqueza espiritual.“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra tais coisas não existe lei".Mas  os seguidores da prosperidade ignoram não apenas estas citações,mas todas as outras tanto da Nova quanto da velha Aliança , que mostram com obviedade qual o verdadeiro propósito do Evangelho:propiciar a construção da riqueza espiritual,conforme fez o Mestre e os demais profetas. A questão da riqueza material foi algo colocado em segundo plano pelo próprio Messias"...buscai em primeiro lugar o Reino dos Céus..." portanto,para o Mestre uma pessoa rica é aquela da qual Deus se agrada.(eis aqui a verdadeira riqueza,porque uma pessoa detentora de tal riqueza  passa a ter uma dimensão atemporal,eterna.). Ora,assumir este discurso,gera isolamento,exclusão,falta de sintonia com os valores predominantes da sociedade,que é justamente a busca do prazer, do prestígio,do poder político,do reconhecimento social e tais coisas não se conquistam sem riqueza material,sem influência.Se as pessoas e o mundo são assim,por que navegar contra  a maré? Façamos,pois,a vontade delas e não a de Deus. Os construtores da teologia da prosperidade captaram toda essa situação e inverteram os papéis:de costas para Deus  e lado a lado com o mundo. Assim, eles desconsideram a  riqueza espiritual e dão ênfase apenas à material. Tal atitude poderia ser encarada,também, como um golpe de oportunismo.Como o conceito de riqueza deles é puramente material desenvolve-se uma busca desenfreada e sem medida pelas conquista de bens materiais e poder,aproveitando-se assim da mesma vontade que os próprios fiéis têm de serem,também, prósperos materialmente(não há nenhum mal em se querer ser próspero,o problema é a inversão de valores) e daí os membros passam a ser explorados nas ofertas e dízimos,principalmente, na expectativa de alcançarem prosperidade.Mas o grande problema,conforme já foi dito, é que o   conceito de riqueza deles entra em divergência com o de Jesus,por isso os ensinamentos do Mestre são relegados a segundo plano e versículos e personagens isolados do Velho Testamento são priorizados. Claro que a parte material é importante ,pois ela satisfaz necessidades imprescindíveis de bem-estar e sobrevivência.Seria tolice negar esta verdade. O que se combate não é a riqueza,mas a forma como ela é adquirida: por meio da exploração mercantil da fé.Se os pregadores da teologia da prosperidade estão corretos,temos que admitir que Jesus,os apóstolos e os profetas estavam errados em pregar a riqueza espiritual em detrimento da material.Claro que o Mestre assumiu tal postura porque sabia(e sabe) que o mundo "está virado de cabeça para baixo"desde a época de Adão e Eva justamente por causa da ausência da riqueza espiritual e que sua conquista tem dimensões eternas,ao passo que a material não têm tal alcance. Mesmo que todos os habitantes da terra fossem ricos materialmente ,sem a riqueza espiritual não haveria mudança genuinamente verdadeira nas pessoas nem na sociedade. "..o que é da terra é da terra o que é do Céu,é do Céu..."por esta razão, há um contraste enorme entre Jesus e os defensores apenas da prosperidade material: O orgulho, a pompa, o exibicionismo,a concentração de renda e de poder não "casam" com a humildade ,as sandálias , a túnica surrada ,e nem tampouco com a simplicidade e a singeleza do carpinteiro de Nazaré.

A outra inverdade que acompanha a frase é:"os servos de Deus eram prósperos e ricos". Caso esta afirmação se referisse à riqueza espiritual dos servos de Deus, ela estaria correta,mas claro que não se refere. Se tal assertiva fosse verdadeira estaria em desacordo com a missão que foi confiada a cada um desses servos."...ninguém pode servir a Deus e a mamon...". O próprio Moisés renunciou riqueza,poder e glória no Egito para atender ao chamado de Deus.Noé passou cento e vinte anos construindo a Arca no topo da montanha. Abraão,Isaac,Jacó, Davi,Salomão personagens muito citados pelos pregadores da teologia da prosperidade eram,realmente, ricos materialmente e poderosos.Contudo percebe-se, claramente,pela leitura dos textos bíblicos que nunca usaram artíficios para subtraírem, por meio da fé, benefícios de outrem.Além disso,a riqueza material lhes veio como acréscimo em um momento específico da Providência,por causa do empenho e sacrifício no Trabalho Providencial. Abraão,um dos favoritos nas citações dos pregadores da confissão positiva,  abandonou a família e saiu errante,sem saber aonde ia para obedecer ao chamado de Deus. Jamais,em nenhum momento,o Pai da fé poderia  ser citado como um um homem obstinado pela riqueza material nem tampouco ser comparado a nenhum desses "líderes" da prosperidade que vendem até a alma por dinheiro. Veja que No novo Testamento,entres os Campeões de Deus mais proeminentes não havia nenhum rico material:Paulo,Pedro,João,Jesus,dentre outros.O próprio Paulo confeccionava tendas para sobreviver.
Destaca-se aqui outra questão que ainda não se conseguiu entender: Por que parte do movimento evangélico histórico considera as "igrejas " da prosperidade material como cristãs ou evangélicas? Há outros movimentos religiosos com fortes valores morais e éticos que são tachados de "seitas e heresias" e que dão ênfase muito maior à Bíblia.As "igrejas" da prosperidade material poderiam ser classificadas ,no máximo como semi-cristãs porque fogem aos princípios básicos do Evangelho. Percebe-se com facilidade que utilizam versículos descontextualizados do Velho e Novo Testamento.Dão destaque aos versículos do Velho Testamento que fazem referências às ofertas e dízimos( Mais um motivo para não usarem o Novo Testamento). Do Novo  utilizam ,de forma distorcida, praticamente um versículo citado por Jesus"Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância". Nada pregam sobre versículos que advertem sobre salvação,renúncia,arrependimento. Além do mais,há muito misticismo,uso de amuletos que,segundo eles, vão trazer prosperidade,"abrir portas"(flor,pedra de sal,roupas para serem "ungidas","dentre outros),sem falar que copiam palavras e costumes de religiões africanas como "descarrego,sessão,quebra de maldição",dentre outras práticas que anulam a possibilidade de tais "igrejas"serem classificadas como evangélicas.Diante de tanta salada doutrinária como poderiam ser consideradas evangélicas ou cristãs?

Se houvesse um tribunal para julgar os crimes de natureza espiritual,certamente todos nós, sem exceção,seríamos apenados .Contudo, "os líderes" da teologia da prosperidade  certamente seriam enquadrados em todos os artigos e receberiam pena máxima,porque se utilizam de artifícios e distorcem  o evangelho com o propósito exclusivamente financeiro,provocando males eternos à vida espiritual dos "fiéis".  E o que é pior: impedindo que a riqueza que eles não querem alcance o coração de pessoas famintas da Palavra e do consolo do Céu.
PS: Conforme já esclareci anteriormente nunca fui membro de nenhuma "igreja da prosperidade" e não ocupo nenhum cargo em nenhuma igreja cristã. Minhas opiniões são absolutamente independentes,resultados de observações e leituras.
Sou apenas uma pessoa esclarecida que quer contribuir para se gerar um debate "sadio",sem ódio, sobre os diversos males que as "igrejas da prosperidade"  vêm causando:transferência e aumento da concentração de renda e desigualdade social,dentre outros males,além dos danos espirituais.

Marcos Antonio Vasconcelos Rodrigues

Escreve contos,artigos e crônicas. Professor .
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Detalhe: Alguns autores divergem sobre o tempo que Noé teria demorado para construir a arca. Alguns dizem menos de 100 anos,outros 40, outros ainda entre dois e três anos. Mantenho aqui no texto o tempo defendido pela tradição: de 120 anos. Mas a questão do tempo,não é relevante para os objetivos a que o texto acima se propõe.
Marcos Antonio Vasconcelos
Enviado por Marcos Antonio Vasconcelos em 07/04/2012
Alterado em 16/05/2021


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