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Por favor, mantenha-se vivo, gritou ela feito apito de trem

Quando recebeu a visita de sua amada na prisão, o rosto de John estava ensanguentado, olhos e boca inchados e escoriações pelo corpo. Ao vê-lo naquele estado, Paty gritou em voz alta, feito um apito de trem - por favor, querido, mantenha-se vivo. Preciso de você. Gotas de lágrimas corriam como água pela face da jovem esposa. A tristeza cobria a face de seu coração.
A  única ação que John conseguia fazer era movimentar pesadamente seus olhos miúdos e inchados. Mal conseguia enxergar sua amada Paty. No dia anterior, antes de ser preso pela polícia iraniana , passara por uma sessão de tortura que o deixara fora de órbita. Estava tentado reviver a cena do dia de sua prisão para tentar entender por que fora parar ali, naquela terrível prisão. Encontrava-se ,ainda, muito confuso. Sentia-se como se uma bola de fogo ardesse dentro de si.A frase de Paty "por favor, mantenha-se vivo", permaneceu ecoando dentro dele. Claro,mais do que nunca precisa manter-se vivo. Sua própria amada era a razão maior para continuar vivendo.
Enquanto divagava em suas reflexões e sem ter forças para conversar com Paty, o carcereiro berrou alto: " O tempo acabou". Terminou a visita. A cela em que John estava preso, media três metros de comprimento por um metro e meio de largura. Em seu interior, havia uma pia , uma privada encardida e suja e uma pequena "cama, de cimento."
A prisão de Waziristan ficava encravada numa região muito desértica do Irã na fronteira com o Afeganistão. Fugir de lá, a exemplo da extinta Alcatraz, era quase impossível. A energia consumida  era produzida por uma usina eólica feita especialmente para alimentar a prisão de Waziristan. O acendimento e o apagamento das luzes eram programados pelos guardas. Havia um pavilhão central ,com aspecto sombrio e estranho, que causava arrepios a quem passava por ele. Mais à frente, havia pavilhões adjacentes. Guardas circulavam a prisão ininterruptamente com cães farejadores e portando armas automáticas. Mesmo sem estar totalmente consciente, John percebeu que estava numa prisão de segurança máxima.
Sua amada havia chegado àquela prisão à custa de muita insistência com o governo iraniano. Foi escoltada por um forte esquema de segurança, embora estivesse sozinha e fosse aparentemene uma pessoa inofensiva. No trajeto de ida e volta à prisão, a mesma pergunta lhe importunava: "Por que Jonh havia sido preso?
John trabalhava , na embaixada americana em Teerã , há dois anos e nunca se envolvera em conflitos ou questões religiosas. Morava com sua esposa Paty, em um apartamento simples no arredores de Teerã e, por serem recém-casados, não tinham filhos.
Logo que chegou da visita, Paty procurou ajuda na própria embaixada americana para saber o motivo da prisão de seu marido. Mas a própria embaixada havia sido fechada pelo governo iraniano. Além do mais, Paty ficou impedida de deixar o país. Somente estava autorizada e visitar John a cada vinte dias. Seu coração parecia querer explodir, vivia em constante inquietação, preocupada com a sobrevivência do marido na prisão e o que faria para tirá-lo de lá.
Na segunda visita que fez ao marido na prisão, John, apesar de não recebr nehum tipo de tratamento, já estava com o corpo desinchado e consciente ,podendo manter um diálogo de quinze minutos com Paty. Ao ver seu seu marido abatido e aflito atrás das grades de aço,a jovem sentiu vontade de desvencilhar-se do corpo físico para entrar na prisão a fim de abraçar e consolar seu marido John. Se eu fosse apenas espírito, não estaria sujeita às leis do mundo físico,pensou ela.
- Querido,temos apenas quinze minutos para conversar.
Diga-me :
- Por que você acha que  foi preso?
Querida, sinceramente, não sei o real motivo, porém creio que deve ter sido por causa de um livro que estava na gaveta do meu birô, lá na embaixada. Esse livro é censurado por setores e pessoas da religião islâmica. Porém, você sabe que não tenho nehum preconceito contra nehuma religião. Eu apenas queria tomar conhecimento do conteúdo do livro e assim entender por que ele provocou tanta rejeição aos muçulmanos.

-E onde você conseguiu esse livro?
- Querida, eu o trouxe dos Estados Unidos, há uma ano ,quando fomos passar nossas férias em nosso país.
- Meu Deus! Suspirou Paty, preocupada.
- Paty, estou aqui há apenas vinte dias e parece que se passaram vários anos, por causa da minha aflição e ansiedade. E sem saber quando vou sair daqui ou se vou sair um dia...
-Querido, meu país está sabendo que a embaixada foi fechada e que você está preso nesta prisão de segurança máxima. Nosso país não nos abandonará. Você precisa ser mais forte que a solidão e o horror dessa trágica penitenciária...aguenta firme, tenha fé. Por favor, mantenha-se vivo.

Marcos Antonio Vasconcelos Rodrigues 

História fictícia . Qualquer semelhança com fatos reais terá sido mera coincidência.


 
Marcos Antonio Vasconcelos
Enviado por Marcos Antonio Vasconcelos em 15/09/2012
Alterado em 03/12/2015
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